Pular para o conteúdo principal

Shiki Oriori


Shiki Oriori- O Sabor da Juventude



Este trabalho é uma antologia que une três diretores diferentes: Haoling Li ("Shanghai Koi"), Jiaoshou Yi Xiaoxing ("Hidamari no Chōshoku") e Yoshitaka Takeuchi ("Chiisana Fashion Show"), sob a tutela do estúdio CoMix Wave Films. Haoling Li também exerceu o cargo de diretor chefe, isto é, ele coordenou o trabalho como um todo. Apesar do crédito no pôster com referência ao mestre Shinkai- “Do Criador de Your Name”- as únicas ligações do mestre Makoto com a obra em questão são o estúdio no qual ele desenvolve suas obras (CoMix Wave Films) e Yoshitaka Takeuchi que é chefe de CGI da maioria dos filmes do diretor. Nada mais. Colocá-lo no pôster e fazer chamada como se ele possuísse responsabilidade sobre o enredo é de uma enganação revoltante.  A Netflix está sendo decepcionante desde aquele Death Note nojento.




Sobre o trabalho em si, ele é de uma boa profundidade autoral e nos deixa com diversos caminhos para uma análise. Há quem o analise pelo aspecto do crescimento dos personagens, ou pelo seu aspecto familiar, mas eu quero analisar por outro ângulo, para tentar aproximá-lo mais das verdadeiras obras do mestre Makoto Shinkai. Nas obras do mestre Makoto, nós somos sempre engolidos por uma sensação de solidão, pela ausência justificada do próximo, pela força dos elementos da natureza. Por encontros e muitas despedidas. “O Jardim das palavras” e “Your Name” são grandes exemplos destes detalhes narrativos que impressionam nos enredos do Shinkai. A chuva que engole dois personagens em um parque, enquanto eles parecem não se comunicar, enquanto seus sentimentos se desenvolvem em uma falsa ausência de comunicabilidade. Falsa, sim, pois a comunicação não verbal ocorre a todo momento no estilo detalhista do diretor. Como em uma olhada rápida, de um jovem, no contorno delicado de um pé de donzela que me lembrou imediatamente o livro “A Pata da Gazela” de José de Alencar. As obras de Makoto Shinkai também são profundas no quesito de encontros e desencontros e, muitas vezes, a depressão da despedida fala mais alto do que a alegria de um reencontro, à exceção de “Your Name” que, ao quebrar este paradigma o reforçou nas demais obras do autor.

Shiki Oriori se aproxima destas questões: encontros e despedidas, solidão e introspecção. São homenagens a estes elementos sempre encontrados nas obras do diretor japonês. As três histórias estão reunidas em torno de um sentimento de separação, de despedida. Elas contam como a ausência pode alterar um destino e como nossas vidas estão repletas de despedidas indesejadas. Mesmo na história do meio, sobre a modelo, que pode parecer negar esta abordagem crítica, ela possui suas despedidas e seus desencontros e reforça o sentimento de solidão, de estar sozinho(a) sem um(a) companheiro(a). Todas as três obras abordam a solidão e se interlaçam em uma cena pós-crédito.

E, como toda a homenagem, esta antologia não supera o sentimento original que as obras do Makoto forçam em nossas almas. Eu brinco dizendo que o mestre Makoto gosta de agarrar nossos corações com as mãos e apertar bem forte com as palavras e cenas de seus enredos. Shiki Oriori tenta copiar este estilo e, apesar de ter profundidade, não alcança a força das mãos do Shinkai.

É uma obra consistente? Sim, mas é também uma tentativa de homenagear a obra do diretor de “Your Name” e, infelizmente, sem ter o mesmo sucesso da adaptação de elementos do enredo do Shinkai. Vale assistir? Sim, pois possui uma estrutura consistente, uma animação de ótima qualidade e três histórias interessantes e bem contadas.

Mais sobre a obra no link abaixo:

https://www.animenewsnetwork.com/encyclopedia/anime.php?id=21127

Vale um 3,75 estrelas como homenagem do trabalho do diretor Shinkai e 4 estrelas se não considerarmos este fator!  



Postagens mais visitadas deste blog

Outros Papos Indica: O Cérebro que se Transforma

Norman Doidge é psiquiatra, psicanalista e pesquisador da Columbia University Center of Psychoanlytic Training and Research, em New York, e também psiquiatra da Universidade de Toronto (Canadá). Ele é o autor deste livro que indico a leitura. O livro, segundo o próprio editor, “reúne casos que detalham o progresso surpreendente de pacientes” que demonstram como o cérebro consegue ser plástico e mutável. Pacientes como Bárbara que, apesar da assimetria cerebral grave, na qual existia retardo em algumas funções e avanço em outras, conseguiu se graduar e pós-graduar. Um espanto para quem promove a teoria de que o cérebro humano é um órgão estático, com pouca ou nenhuma capacidade de se adaptar. “ Creio que a ideia de que o cérebro pode mudar sua própria estrutura e função por intermédio do pensamento e da atividade é a mais importante alteração em nossa visão desse órgão desde que sua anatomia fundamental e o funcionamento de seu componente básico, o neurônio, foram esboçados pela p

Outros Papos indica uma pesquisa- I.A. e as mãos!

 Hoje não vou indicar um canal, mas uma pesquisa. Enquanto eu ainda tinha uma conta no Twitter, eu estudei muitos desenhos feitos por inteligência artificial e notei uma coisa peculiar em muitos deles. A I.A. (inteligência artificial), muitas vezes, não sabe fazer dedos e mãos.  Vou colocar um vídeo aqui que achei criativo. Um vídeo sobre Persona 5, mas com a letra a música sendo usada para gerar desenhos por I.A.. Notem que em alguns dos desenhos essa peculiaridade aparece. Mãos desenhadas de forma errada. Acredito que algumas inteligências podem não saber como construir, porque o programador não inseriu, na engenharia do sistema, a anatomia das limitações impostas pelos ossos. Simplesmente, eu não sei e preciso pesquisar. Pesquisem também.  

Paulo Fukue- O Engenheiro de Papel

 A tradição não é estática. Ela tem uma alteração lenta. Proteger a tradição é honrar os que vieram antes. Esse é um dos princípios de quem conserva. Por exemplo, antes de criar o Jeet Kune Do , Bruce Lee precisou aprender a tradição do box chinês, Wing Chun . Ele observou seus movimentos, treinou sua base, observou sua realidade e desenvolveu sua técnica para preencher algo que ele considerava falho. Ele conservou e debateu sobre mudanças pontuais, até chegar ao seu estilo próprio. Ele não poderia realizar tal feito se não existisse uma tradição de golpes e lutas anteriores. Se ele não tivesse um Yip Man que o ensinasse. Uma tradição que é mantida é sempre essencial para evoluções futuras e um mestre de hoje sempre aprende com um mestre do passado. Assim a tradição se movimenta. É assim também nas ciências, nas artes e no mundo inteiro. Uma sociedade que respeita seus mestres (professores de grande saber) pode evoluir mais rapidamente. Nesse sentido, toda a forma de divulgação de mest