Patrick Raymundo de Moraes- jornalista profissional (3241/DF), membro da Real Academia de Letras do Brasil, Ordem da Confraria dos Poetas e membro com associação colaborativa da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Literatura, Direito, Análises, Críticas, Poemas e Quadrinhos! Errando sempre, mas sempre em frente!... This blog uses cookies from Amazon, Google, Blogger, Double Click and Gravatar.
Eu estou sentado em minha baia, nesse momento, refletindo
sobre os acontecimentos do ano passado e colocando tudo por escrito. Escrevo
para olhos cegos e ouvidos surdos.
Agora, parando para pensar, o ano passado foi um ano
confuso. O começo do ano passado, o caranguejo foi até a minha baia e retirou
de lá as cobras venenosas, que invadiram minha casa na intenção de tomá-la para
si e usufruir dela. Ele retornou com a garantia de posse de minha baia e eu,
muito feliz, escrevi para minha mãe sobre os acontecimentos. Minha mãe é uma coruja
sábia e me retornou suas palavras em outra carta. Como toda coruja, ela enxerga
na escuridão, inclusive na pior das trevas espirituais. E ela veio me dizer que
o caranguejo havia dado às cobras uma outra baia, que também haveria de
pertencer a nós no momento de seu falecimento. Ou seja, caro leitor
desconhecido, ele nos resgatou a nossa baia, mas nos retirou outra.
Foi assim que tudo terminou naquela ocasião. O triste é que
li uma história, em um livro humano chamado Bíblia Sagrada, que conta a
história de um filho que fez mal ao seu pai e ao seu irmão, tomou para si o que
ainda não pertencia a ele, gastou tudo o que tinha, passou por dificuldades e
retornou ao lar, sendo recebido com festa pelo pai e com tristeza pelo irmão
que sempre teve uma vida correta. O filho pródigo é o título da história. Ao ler
isso, identifiquei nos atores da história a nossa maldita família. O filho
pródigo é a representação das cobras que quiseram ter para si o que não
pertencia a elas, tentando imputar a nós falsas acusações. O pai é o caranguejo
que, apesar de todo o mal que as cobras tentaram fazer a mim, ele ainda as
recebeu. E o outro filho é esse ratinho.
Eu nunca gostei da postura do pai que recebeu com festa um
filho odioso, enquanto o filho correto nunca recebeu nada, nem mesmo suas
promessas feitas e foram muitas promessas. O pai não agiu com equidade e nem
com justiça. O caranguejo, sendo o pai, também não agiu com justiça e nem teve
amor verdadeiro pelo filho correto. Não escrevo sobre a baia dada, não é
questão material, mas sobre a preocupação do caranguejo para com cobras que fizeram
tanto mal a mim. É o ato de dar a quem não merece que realmente machuca. Como
eu penso comigo, o ato de ter misericórdia para com um maldoso é maldade para
com a vítima. Dessa forma, penso comigo que não é apenas o filho que se torna
pródigo, mas o pai também, pois o pai gasta a herança do filho correto com o
filho que não merece.
E o cientista nessa história toda? Ele continua permitindo
esse estudo maldito. Sendo um ser acima do bem e do mal, não podendo ser restrito
a essas definições, ele simplesmente É. E, como ele É, continua com sua postura
imutável e eu não consigo mais ouvir sua voz. Ele me parece uma estátua,
indiferente a tudo que está ocorrendo. Quando eu vou comer, fico mastigando
minha comidinha, olhando para o alto, e lá está ele, concentrado em seus
papéis. Eu não consigo imaginar o que se passa pela cabeça dele. E, também,
como um mero ratinho de laboratório vai conseguir entender o cientista que o examina?
É impossível.
Ao menos, os mangustos ainda estão ativos, observando a
tudo. Meu caro leitor, é assim que o texto desse ano termina. Não sei ao certo
se o conto terá uma continuação no ano que vem. Tudo depende do Cientista.
Apenas ele dará a resposta.