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A Vida!

  Viver é árduo;  Em dor, as estações;  Preciso é viver;  Anseio ver meu amor;  Ao amanhecer, estar com ela. Data do print: 03/04/2024

Você vale algo?


Você vale algo? Versão atualizada!
* Por Patrick Raymundo de Moraes



Ele estava parado em um quarto quase vazio. Uma janela quebrada deixava entrar o vento e a chuva de uma noite infestada de gritos e inquietação. Ele estava inquieto. Um quarto barato, de um cortiço barato. Ele estava sentado em uma cadeira velha e barata. Ele estava rodeado de coisas baratas e baratas. Na mão, ele decidia se a vida era barata, ou se ela valia algo. Ela valia algo?

— Você vale algo? — ele pergunta para a moça deitada no chão, enquanto ela sangra, semiconsciente. Ela foi infeliz nesta noite. Um lance do destino. Era fim de turno no restaurante japonês, ela poderia ter ido embora para casa, mas resolveu atender uma última ligação. Ele pedira um “sashimi”. Ela queria mostrar serviço e responsabilidade. Ela queria valer algo aos olhos do chefe.

Além de anotar o pedido, ela se fez de entregadora. O motoqueiro que faz as entregas já havia ido embora. Um caso atípico de comportamento. Em uma cidade grande, o endereço não significa muita coisa. Pode-se ter um prédio luxuoso ao lado de um cortiço, por isso ela não prestou atenção ao endereço.

Ela chegou de lambreta. Ela comprou há dois meses a pequena condução e estava feliz por causa de seu primeiro bem adquirido. A lambreta tinha um grande valor sentimental para ela. ao olhar para o prédio, ela temeu. Foi como se seu instinto lhe avisasse sobre um perigo iminente, como uma presa que estava sendo observada por um predador, mas ela não podia voltar atrás.

Achou o apartamento. O homem parecia tranqüilo e pediu para ela entrar. Ela disse que não. Uma jovem pequena, cabelos longos, lisos e pretos. Ela possui uma origem asiática. A jovem japonesa entregou o pedido. Para seu susto, o homem a agarrou pelo pulso e a puxou para dentro. Ela imediatamente sacou de um pequeno estilete que estava no bolso da calça, mas não teve tempo de usar. Ele usou a coronha da arma para nocautear a pequena.

Com ela desmaiada, ele tranquilamente a deitou de costas e amarrou seus punhos. Depois, juntou seus cotovelos para os amarrar. Ele notou as costas frágeis da japonesa. Como ela era pequena. Em seguida, colocou seus tornozelos bem juntinhos e os amarrou com um nó bem apertado. Então, ele abraçou suas coxas com firmeza e  atou suas pernas na altura dos joelhos. Inconsciente, ela não resistiu. Suas pernas amolecidas, seus músculos fracos, formaram uma bela visão para o seu raptor. As cordas começaram a marcar sua pele sensível. Depois que se sentiu bem ao imobilizar a pequena jovem, ele sentou-se na mesa e começou a comer um prato chinês chamado de "pato à Shangai".

— Você vale algo? — a pergunta repetida faz com que a moça recobre os sentidos e volte ao presente. Ele tinha deixado o dinheiro do pedido no chão, ao lado dela. Ela estava assustada. — Sim, todos valemos algo! — ela diz com uma bravura em voz que não reflete o verdadeiro temor que ela sente em seu coração. Ele a olha com profunda tristeza.

— O que você vale? — ele pergunta. No braço direito há uma Eagle semi-automática de uso do exército. Embora a arma seja de uso restrito das Forças Armadas, ele nunca foi um soldado. A arma pertencia a um irmão já falecido em combate. Ele a engatilha e trava. Ela pensa no que responder, enquanto ele a observa.

— Eu vali sete meses de gravidez de minha mãe e dois meses de oração de minha família. Fui precoce e tive problemas de saúde. Quando fui atropelada, enquanto andava de bicicleta, eu vali as lágrimas de minha mãe e o tremor das mãos de meu falecido pai que me carregou até o hospital. Eu vali o desejo do primeiro beijo de meu namorado. Eu tenho o valor das preocupações deles e do amor que eles carregam por mim. — ela diz com as lágrimas nos olhos que escorriam. “Como essas palavras surgiram?”, ela pensa, sem saber como.

— Você vai me matar? — ela pergunta de forma tímida e medrosa.

— O quanto você vale para você? — ele volta a perguntar.

Ela fica muda por um instante. Ele levanta da cadeira e pega um copo de café. De súbito, acontece de novo e aquela bravura, que ela não sabe de onde vem, surge em seu coração e as palavras se formam como que sussurradas.

— Eu poderia continuar dizendo que me meço pelo valor que os outros dão à mim! Mas isso é errado! O meu real valor é que sou um indivíduo único e eu aprendi a me amar. O meu valor é o valor do amor que eu tenho por mim mesmo. Esse é o verdadeiro valor!

Novamente, ela não sabe de onde tais palavras saem. Elas saem de seu interior, com entusiasmo e força que ela nunca demonstrara antes. A força de um “eu” que ela não sabia que existia até então. É uma presa tentando enfrentar um predador. 

— Qual o meu valor? — ele aponta a arma para ela. Essa é a pergunta decisiva! Um erro seria a morte! Ela olha ao lado, procurando por inspiração que parece não vir. Repentinamente, ouve-se um tiro. Um raio corta o céu de uma cidade turbulenta. Gritos ecoam por toda a parte. Animais vasculham o lixo e o lixo se confunde com pessoas. A chuva parece não cessar. São muitos barulhos uníssonos, então, dessa forma, ninguém a ouviria gritar. Será que ela gritou? Não se sabe. Não se ouviu. 

— Eu não vou errar o próximo tiro! — ele diz.  O tiro atravessou a parede ao lado da cabeça. — Qual o meu valor? É tão difícil responder?

— É lógico que é, seu maníaco! — ela grita! — Eu não te conheço!

Ele aponta a arma para a cabeça dela. Puxa o gatilho. A misteriosa força de vontade volta com rapidez e domina a garota novamente.

— Valor? Não sou eu quem vai te dar um valor! O valor é o que você sente por si mesmo. No momento, ele está baixo! Daria para passar o seu valor por debaixo da porta!

Ele tenta atirar contra ela, mas a arma engasga. Algo trava o gatilho e ele não consegue atirar.

— A arma engasgou? Tenta entender que não é gerando expectativas, mas aceitando quem você é, é que vai fazer com que as coisas melhorem! — ela tenta continuar falando, mas ele avança contra ela. Ele coloca uma mordaça em sua linda boca e seus finos lábios se calam, após um gemido de medo.

Em seguida, ele ergue o punho contra ela. Ela se encolhe no canto, esperando o impacto do soco, entretanto, o impacto não acontece. Ela abre os olhos e vê, com a ajuda de um raio que ilumina o ambiente, seu falecido pai a segurar o agressor pelo peito. O agressor não consegue se mover. A imagem rapidamente some com a velocidade de um relâmpago.

Ela chora e sua mordaça se solta por um milagre. — Você vale a preocupação de meu pai, que desceu só para isso! Que está te impedindo de mover! Você vale a batida de seu coração! Você vale muito e se a vida não está sendo como você queria, siga as palavras que estão no Hagakure: “Enxergar o mundo como se fosse um sonho é um bom ponto de vista. Quando tem um pesadelo, você acorda e diz a si mesmo que era apenas um sonho. Dizem que o mundo em que vivemos não é muito diferente disso”. Amanhã, eu vou acordar e dizer que o dia de hoje foi apenas um pesadelo. Faça o mesmo e recomece!

A garota consegue se soltar de suas amarras como se elas não existissem, pois o espírito de seu pai a ajuda e, imediatamente, pega o dinheiro do pedido e se lança para fora do quarto. O rapaz chora e se põe de joelhos. A arma se desfaz em pequenas partes e ele consegue enxergar, através de outro raio, a figura de um ser paterno que protegeu a filha e outra figura que ele imediatamente reconhece: seu irmão que, agora, lhe sorri e lhe diz ao coração: “A vida está diante de ti, como a morte. Viva e sonhe novamente."! A garota, no dia seguinte, agradece aos seus ancestrais pela proteção e pelo amor. O rapaz continua sentado em seu apartamento barato, mas ele sabe que sua vida não é barata e ele, pela primeira vez, sorri. 

(Publicado na antologia “Palavras que falam”, Editora Scortecci, em 2006, e atualizado para 2020.)

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