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Histórias do Ratinho: Caranguejo!


Conto do Ratinho: Histórias do caranguejo
Esse conto se passa antes do ratinho escrever a carta para a sua mãe

Fonte: Gadoo https://www.gadoo.com.br/wp-content/uploads/2014/07/910.jpg


O inverno é sempre forte nessa nova baia, mas é um inverno próspero e alegre. Desde a minha mudança para esse novo lar, ainda temporário, tenho aprendido muito sobre o cientista e a vida. Muitos problemas que aconteceram, como a invasão de meu lar, fizeram com que eu refletisse sobre a mutabilidade da vida, a instabilidade dos valores e da minha própria falta de fé no cientista e em suas ações.

Aprendi que o cientista é dono de toda a luz e de todas as trevas. Que ele tem o domínio de todas as circunstâncias e que nossas ações, apesar de serem livres, nos trarão sempre consequências e, através delas, seremos julgados. Ainda em vida, nós, ratinhos, somos avaliados pelo olhar cuidadoso e zeloso de nosso cientista.

Certa vez, li em um livro que:
“Como as aves dão proteção aos filhotes
com suas asas,
o Senhor dos Exércitos
protegerá Jerusalém;
ele a protegerá e a livrará;
ele a poupará e a salvará".
Isaías 31:5

Eu não conheço mesmo o autor desse livro, mas sinto que o cientista é assim. Ele vê o mal que está sendo armado e protege os seus pequeninos. E, enquanto refletia sobre o cientista, não percebi a presença de um vulto que se aproximava de mim.

--- Meu jovem, retornei com novidades!

Era o velho caranguejo! Eu corri para o cumprimentar e ele bateu carinhosamente na minha cabeça com sua garra maior.

--- O cientista me explicou os detalhes do que estava acontecendo, como você bem o sabe. --- ele explica, ao andar de lado erguendo suas garras ao alto.

--- Sim, ele me disse que tinha comandado o senhor e alguns Mangustos para expulsarem as cobras! --- respondi com confiança.

--- Não terminou por aí, meu jovem! --- sorri o velho caranguejo observando minha reação. Eu arregalei os olhos esperando uma resposta. Ele continuou sua explicação:

--- Era noite quando decidi que deveria fazer mais do que expulsar as cobras de sua baia. Eu me reuni com os mangustos e decidimos que iríamos atrás das cobras. Elas pagariam pela invasão! Os mangustos me apresentaram uma companheira que me ajudaria: a aranha Viúva Negra. Eles guardariam a baia, e a aranha me ajudaria na invasão e negociação.

Caranguejo: “As cobras ficam menos ativas à noite, então, começamos a invasão de madrugada. Ao entrarmos na baia delas, não fomos notados. Era uma baia tão boa quanto a sua e eu fiquei realmente furioso ao ver que não havia sentido em querer a sua, uma vez que a delas também era grande. Além de grande, ela era nova e bem cuidada. Com minha técnica especial para andar (de ladinho) eu não fui notado até conseguir achar o covil delas, em uma área central da baia. A aranha estava em minhas costas preparando teia. Estava frio, sem iluminação e o cheiro da pele de cobra me dava náusea. Apesar da baia ser excelente, a presença das cobras fazia o lugar feder. A viúva negra e eu entramos no covil. As cobras estavam dormindo como era esperado.

Eram três cobras. Duas fêmeas horrendas e um macho fedorento e gordo. Quando nos notaram já era tarde. A aranha lançou uma rede de teias no macho, que não conseguiu desviar e ficou enrolado, lutando contra os fios. Quanto mais lutava, mais amarrado ficava. Era tão gordo que logo se cansou e parou de se debater. Imediatamente, ela pulou nas costas da mais jovem e laçou-lhe a boca para evitar ser mordida. Então, a pequena e ágil aranha agarrou a cauda dela, subiu pela parede, deixando-a amordaçada, imobilizada pelo rabo e pendurada de ponta-cabeça. Ela até se esforçou para se libertar, mas a aranha desceu por seu corpo e ameaçou morder-lhe o pescoço. Sentindo a presença das presas da aranha em sua pele, logo ela amansou e parou. A mais velha e horrível de todas tentou me morder, mas suas presas quebraram ao tocarem em minha armadura vermelha. Antes que ela tentasse se enrolar em mim, eu lhe imobilizei a cauda e lhe segurei pela cabeça. Ficamos olho no olho.

Nesse instante, comecei a negociar com elas. A aranha olhava fixo para a serpente que ela havia dominado, deixando transparecer sua sede de sangue pela vítima capturada. Eu olhava bem nos olhos da minha cobra capturada, apertando-lhe o pescoço com minha garra maior. Um barulho intencional veio de fora do covil. Um mangusto apareceu e olhava com ódio para a serpente macho enredada. Todos perceberam que falávamos sério e que a vida deles dependia de uma boa negociação.

Dei um sermão em todas. E a negociação até que foi rápida. Como eu tinha o domínio do fato, a força da lei, e a ajuda do cientista, minhas exigências foram aceitas sem questionamentos. Com isso, houve a promessa de que não invadiriam mais a sua baia e, em punição, eu tirei delas metade da baia que pertencia a elas. O macho ficou calado. Nós saímos da baia com a promessa feita em sangue.” --- Concluiu a história e fez uma breve pausa esperando por algo. Eu notei e imediatamente respondi:

--- Como eu posso agradecer uma ajuda tão grandiosa?

Ele sorriu:

--- Não precisa agradecer! Basta continuar sendo você mesmo. Já recebi do cientista o meu agradecimento. --- Disse ele estufando o peito e erguendo suas garras em comemoração.

Eu sorri e, olhando para cima, vi o cientista me observando. Eu o agradeci! Continuamos conversando nós dois até que o dia terminou.        



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