Pular para o conteúdo principal

Crítica- O Mecanismo!


O Mecanismo é uma série original Netflix baseada no livro “Lava Jato- o juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil” do jornalista Vladimir Netto[1]. Ela é dirigida por José Padilha e estrelada por Carol Abras e Selton Mello.



Fui assistir por causa da polêmica envolvendo os criminosos da esquerda, que choraram e espernearam quando a série estreou. Dilma chorou, Padilha rebateu. Lula se enfureceu, o Brasil todo riu. Enfim, confesso que foi isto que me estimulou a assistir a esta série. E isto comprovou a velha regra do marketing que ensina: “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Infelizmente, esta regra funcionou novamente. Com tanta gente falando mal, eu acabei me interessando. Assisti vários episódios!

Aqui preciso deixar claro que não li o livro no qual a série se baseia e sei que a série é uma obra de ficção baseada no livro em questão, então, obvio que algumas liberdades artísticas foram permitidas. Não será possível, então, comparar a obra com a realidade que a inspira. Este é um trunfo que a direção obteve ao informar, em poucas linhas, que a série é uma obra de ficção. Entretanto, nada nos impede de comparar esta série com o filme “Polícia Federal- A Lei é Para Todos”, uma vez que ambas as obras se baseiam nos mesmos fatos.

O primeiro ponto que notei na série é um tom narrativo que nos remete aos seriados antigos de investigação policial, com extensos diálogos internos dos personagens. Algo que Padilha usou em Tropa de Elite também. Já o filme da Lava Jato usa mais diálogos externos e as cenas expositivas. Enquanto um conta o que o personagem sente e pensa, em relação ao que está ocorrendo, o outro mostra tudo de forma mais dinâmica.

A série, por ter mais duração, poderia ter se concentrado mais nas investigações, entretanto, foi no filme que a investigação realmente ocorreu. A série fica muito tempo presa ao personagem do Selton Mello e sua fúria e angústia por não conseguir lidar com a corrupção. O filme trata da investigação de maneira mais completa. A série também é ingênua ao mostrar a investigação como função isolada da Polícia Federal, enquanto sabemos que a Polícia Federal teve apoio do Ministério Público e da Justiça Federal. Se a investigação fosse realizada apenas por aqueles três agentes, ela teria sido abafada. Esta é a ingenuidade da série. Ela trata da corrupção sistêmica das instituições brasileiras e os tão poderosos corruptos não conseguem lidar com três agentes? Já o filme mostra que a equipe estava bem equipada e bem preparada, sendo uma investigação blindada pela justiça.

Atuação do Juiz e Delação Premiada

Blindada pela justiça? Como assim? Simples, chegamos aqui na figura do juiz responsável por analisar e deferir/indeferir as ações pedidas pelo Ministério Público: aquele que representa o juiz Sérgio Moro. No seriado, Moro é muito apático e representado quase como um coadjuvante que mais atrapalha que ajuda nas investigações. No filme da Lava Jato, que o mostra como ele é de fato, o juiz foi responsável por evitar danos às investigações. Como assim? Quando o STF desejou soltar os investigados, foi uma recomendação do Moro ao STF que não permitiu que isto acontecesse. Foi quando o magistrado lembrou ao ministro do STF que junto aos investigados foram encontradas drogas, e que o nosso ordenamento jurídico, bem como os tratados internacionais, impedem a soltura de investigados relacionados com o tráfico de drogas (cena do caminhão de palmito no filme). O ministro do STF acatou recomendação de Moro e os investigados foram mantidos sob custódia.

A delação premiada, grande trunfo usado para que os investigadores conseguissem provas das acusações, também foi tratada de forma diferente aqui. No seriado, este instrumento foi retratado quase que como algo inútil, enquanto no filme a delação teve seu papel fundamental para desatar os fios da corrupção. Sem ela, nenhum delator abriria o bico. Foram duas coisas essenciais à investigação: o juiz que conseguiu manter os investigados sob custódia do Estado e a delação premiada que os fez delatar para uma redução de pena.

A corrupção

No filme, eles mostram que a corrupção no governo petista foi usada para manter um grupo no poder, para manter uma agenda de poder de um grupo da esquerda brasileira. No seriado, a corrupção foi demonstrada como algo sem uma bandeira política definida. Como Padilha é um simpatizante da esquerda, fica claro que ele usou esta obra de ficção para tentar desassociar a imagem da esquerda da imagem da corrupção. A corrupção da esquerda é desculpa para manter uma agenda revolucionária e eu considero isto mais grave. O seriado tenta esquivar desta realidade.  

Conclusão

Enquanto mantenho uma nota 10 para o filme que já analisei, eu dou uma nota 5 para o seriado. O seriado só fez sucesso por causa do chilique da esquerda. Aqui embaixo deixo o trailer do filme que realmente homenageia a operação que deu esperanças ao Brasil! Se precisar escolher apenas um para assistir, escolha o filme!


   


[1] Saraiva: https://www.saraiva.com.br/lava-jato-o-juiz-sergio-moro-e-os-bastidores-da-operacao-que-abalou-o-brasil-9337385.html

Postagens mais visitadas deste blog

Outros Papos Indica: O Cérebro que se Transforma

Norman Doidge é psiquiatra, psicanalista e pesquisador da Columbia University Center of Psychoanlytic Training and Research, em New York, e também psiquiatra da Universidade de Toronto (Canadá). Ele é o autor deste livro que indico a leitura. O livro, segundo o próprio editor, “reúne casos que detalham o progresso surpreendente de pacientes” que demonstram como o cérebro consegue ser plástico e mutável. Pacientes como Bárbara que, apesar da assimetria cerebral grave, na qual existia retardo em algumas funções e avanço em outras, conseguiu se graduar e pós-graduar. Um espanto para quem promove a teoria de que o cérebro humano é um órgão estático, com pouca ou nenhuma capacidade de se adaptar. “ Creio que a ideia de que o cérebro pode mudar sua própria estrutura e função por intermédio do pensamento e da atividade é a mais importante alteração em nossa visão desse órgão desde que sua anatomia fundamental e o funcionamento de seu componente básico, o neurônio, foram esboçados pela p

Outros Papos indica uma pesquisa- I.A. e as mãos!

 Hoje não vou indicar um canal, mas uma pesquisa. Enquanto eu ainda tinha uma conta no Twitter, eu estudei muitos desenhos feitos por inteligência artificial e notei uma coisa peculiar em muitos deles. A I.A. (inteligência artificial), muitas vezes, não sabe fazer dedos e mãos.  Vou colocar um vídeo aqui que achei criativo. Um vídeo sobre Persona 5, mas com a letra a música sendo usada para gerar desenhos por I.A.. Notem que em alguns dos desenhos essa peculiaridade aparece. Mãos desenhadas de forma errada. Acredito que algumas inteligências podem não saber como construir, porque o programador não inseriu, na engenharia do sistema, a anatomia das limitações impostas pelos ossos. Simplesmente, eu não sei e preciso pesquisar. Pesquisem também.  

Paulo Fukue- O Engenheiro de Papel

 A tradição não é estática. Ela tem uma alteração lenta. Proteger a tradição é honrar os que vieram antes. Esse é um dos princípios de quem conserva. Por exemplo, antes de criar o Jeet Kune Do , Bruce Lee precisou aprender a tradição do box chinês, Wing Chun . Ele observou seus movimentos, treinou sua base, observou sua realidade e desenvolveu sua técnica para preencher algo que ele considerava falho. Ele conservou e debateu sobre mudanças pontuais, até chegar ao seu estilo próprio. Ele não poderia realizar tal feito se não existisse uma tradição de golpes e lutas anteriores. Se ele não tivesse um Yip Man que o ensinasse. Uma tradição que é mantida é sempre essencial para evoluções futuras e um mestre de hoje sempre aprende com um mestre do passado. Assim a tradição se movimenta. É assim também nas ciências, nas artes e no mundo inteiro. Uma sociedade que respeita seus mestres (professores de grande saber) pode evoluir mais rapidamente. Nesse sentido, toda a forma de divulgação de mest