**Soneto para Will Serfort** Sem magia, apenas com espada em mão, Will busca um sonho, o topo a alcançar, Na torre alta, seu destino está, Guiado pela força e o coração. O mundo o vê com olhos de desprezo, Mas ele segue firme em seu caminho, Com os óculos e lembranças, o carinho, Daquela que foi embora, o mais belo peso. Os magos riem de sua ausência de poder, Mas ele luta, persiste sem temer, Seu corpo é sua arma, sua mente, seu farol. Por entre sombras e demônios cruéis, Ele segue com coragem e fiéis, A amiga reencontrar será seu sol.
O conto que vou deixar aqui foi escrito, em 2005, para o livro "SETE" (Ed. Litteris) e estará no lançamento de meu novo livro: "Papos que ficaram na Memória". É um conto infantil, por isso queria deixar uma boa mensagem e escrever de maneira mais leve. Espero que gostem desse conto, porque o achei interessante por transmitir uma boa mensagem sobre educação.
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Imagem retirada do site José Petri (clique)
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Imagem retirada do site José Petri (clique)
O MENINO DO DEDO DE METAL
Era um mundo pequeno como o nosso, mas não
era o nosso mundo. Tinha árvores, flores e animais. Tudo o que temos e muito
mais. E, nesse pequeno universo, havia cidades, e cada cidade tinha sua rua de
especialidades. Rua das farmácias, rua dos restaurantes, rua do sono e rua do
dia. Na rua do sono, todos dormiam e, na rua do dia, todos conversavam,
trabalhavam e se divertiam.
A conversa que mais se observava era sobre
o dedo que escrevia. Nesse pequeno mundo, não havia caneta, lápis ou pincel, mas
um instrumento que a todos substituía. Esse instrumento era chamado de o “dedo
que tudo escrevia”. O “dedo”, um pequeno aparelho que se colocava no dedo
indicador, era usado para escrever, desenhar e pintar. Essa era também a
diferença entre classes sociais, pois o “dedo” era dado pelo governo de cada
cidade para alguns membros de cada família. Assim, cada cidade tinha seu dedo
de bronze, de prata e de ouro.
A escolha era simples. Quem melhor escrevia
tinha o dedo que merecia. O melhor de todos era o dedo de ouro. Quem o possuía ornamentava
conhecimento e destreza. O dedo de prata era dado a pessoas de bom
conhecimento. Já o dedo de bronze era um dedo que pouco escrevia e quase não se
interessava pela escrita ou pintura. Algumas pessoas não possuíam o “dedo”
porque o governo não via valor nelas. Esse era o caso do jovem Moninho. Filho
de um pai “dedo de bronze”, com uma mãe “sem dedo”, ele não sabia escrever direito
nem tinha acesso ao ensino adequado.
— Jovem Moninho, da rua das
oficinas, não precisa de um “dedo de bronze” já que ele não precisa disso para
viver em sua rua. Ele tem habilidade com as máquinas — diziam os conhecidos ao
seu pai, tentando animá-lo.
— Mas eu quero saber
escrever! Eu quero um “dedo de bronze”, igual ao do meu pai! — ele reclamava
com seu pai que relutava em lhe ensinar a escrever.
— Não precisa disso, filho!
Sua habilidade com as máquinas é suficiente — falava o conformado pai. Moninho
era um jovem determinado que sonhava em entrar na rua da biblioteca. Mas entrar
na rua da biblioteca só era permitido apenas para quem tinha o “dedo”. Moninho
pediu ajuda ao governo, que insistia em não lhe dar o devido valor, pois sua
habilidade com as máquinas era o que os governantes apenas viam. O governo
estava preocupado em bajular os “dedos de ouro” e ocupar os “dedos de prata”, e
nada fazia pelos “dedos de bronze”. Moninho não aceitava isso.
Numa noite, em sua humilde casa, na rua das
oficinas, Moninho esperou seu pai tirar o seu “dedo de bronze” para dormir e
foi pegá-lo. Ele ainda era pequeno e o dedo de seu pai escorria por sua mão.
Cabiam dois dedos de Moninho no “dedo de bronze” de seu pai. Moninho estudou o
dedo de bronze. Sua forma, seu jeito e sua especialidade. Depois, foi dormir. Na
manhã seguinte, Moninho acompanhou seu pai até a oficina e o ajudou no
trabalho. Recolheu a roupa com sua mãe e brincou na rua dos brinquedos de
madeira com seus amigos, ao lado da rua dos brinquedos eletrônicos, onde os
filhos dos “dedos de prata”, e dos “dedos de ouro”, brincavam com máquinas eletrônicas
e muita música. Mas, à noite, Moninho não foi dormir. Ele esperou seus pais se
deitarem e começou a trabalhar com peças de bronze. Em duas semanas, tinha
construído para si um “dedo de bronze”. Ao experimentá-lo, constatou que servia
muito bem e funcionava direito, mas Moninho só conseguiu alguns rabiscos. O
“dedo de bronze” não era suficiente.
— Para conseguir usar o “dedo”,
você precisa saber ler e escrever — explicou uma voz rouca vinda de um vulto na
escuridão da oficina. Era o velho Rabosco, funcionário de seu pai há anos e que
estava dormindo na oficina.
— Por favor, não conte a
ninguém o que eu fiz! — disse, amedrontado, Moninho. Rabosco pegou o “dedo de
metal” e se surpreendeu com a perfeição do acabamento que o garoto tinha
construído. Mas faltava algo, além da destreza.
— Além de saber escrever, o
“dedo de bronze” verdadeiro deve ter um timbre real do governo, para impedir
fraudes — explicou novamente o velho Rabosco, que tossia muito. Os dois ficaram
em silêncio por muito tempo. Moninho estava tenso. Rabosco tossiu de novo e
disse:
— Não vou contar a ninguém o
que você fez! Aliás, eu esperava essa sua coragem no seu pai.
— Por que no meu pai? —
surpreendeu-se Moninho.
— Como acha que seu pai
conseguiu o “dedo de bronze” dele? Eu o ensinei a escrever, mas ele não tinha a
determinação que você tem! — afirmou o velho, retirando um “dedo de ouro” de
seu bolso. Um “dedo” velho e quase enferrujado.
— Você é um “dedo de ouro”?
— espantou-se o jovem menino.
— Sim! Fui de uma família
prestigiada, mas que acabou perdendo tudo com a troca de governo.
— Como assim? — confundiu-se
Moninho. — Os “dedos de ouro” não são prestigiados para sempre?
— Deveriam ser mas, com a
mudança de governo, a cada oito anos, vários “dedos de ouro”, que eram
prestigiados pelo governo passado, acabaram por serem esquecidos pelo atual governo
— terminou a explicação.
— Então, por que ter um “dedo
de ouro”? — Moninho pediu uma explicação.
— Pelo conhecimento! O conhecimento
é um valor que não se perde com o tempo. Diplomas e “dedos de ouro”, “prata” ou
“bronze” enferrujam e envelhecem, mas o conhecimento adquirido permanece por muito
tempo — explicou Rabosco. — Quer ser um “dedo de ouro”?
Moninho não pensou duas vezes:
— Sim, eu quero!
Os dias se passaram. Moninho ajudava o pai
na oficina e a mãe em casa. Depois, em vez de brincar, ele se encontrava com o
velho Rabosco que o ajudava a estudar. Os dias se tornaram meses e os meses,
anos. Moninho já era um jovem adolescente. O velho Rabosco lhe deu o timbre
real do governo e o colocou no “dedo de bronze” de Moninho.
— Pronto, Moninho! Agora,
tudo depende de você! O concurso anual para a escolha dos futuros “dedos de
prata” começou e eu o inscrevi na competição. Boa sorte, meu rapaz! — falou o
velho Rabosco, abraçando o jovem.
Estavam todos lá. Gente importante do
governo atual, representantes da alta classe dos “dedos de ouro” e vários membros
dos “dedos de prata”. Todos sentados em mesas de luxo. Na arquibancada de metal,
estavam os “dedos de bronze”, incluindo os pais de Moninho. A prova para “dedo
de prata” começava com a verificação do timbre real. O verificador olhava atentamente
o timbre de Moninho, que estava frio e confiante.
— Esse timbre é muito antigo!
Era do governo passado! — resmungou o verificador.
— Não há nada no regulamento
que me impeça de fazer essa prova, só porque meu timbre é antigo. Não é
verdade? Afinal, o que se mede aqui é o conhecimento ou é um mero pedaço de papel?
— retrucou Moninho.
O verificador ficou confuso.
Olhou várias vezes o livro de regras e disse:
— Está bem! Vá em frente!
Moninho passou para a fase seguinte. Ele se
viu frente a frente com uma senhora de meia-idade, bem vestida, com óculos. Ele
a cumprimentou gentilmente.
— Em sua opinião: valor ou
conquista? — ela perguntou com seriedade. Era uma prova oral. Moninho pensou um
pouco e respondeu — Conquista sem valor nada é. Vitória sem honra é desmerecida.
Valor moral é maior que o valor da conquista — ele refletiu.
— Resposta satisfatória.
Pode prosseguir — ela disse.
A última prova era escrita. Estava na hora
de pôr em ação o “dedo de bronze” que ele fizera na infância. Conhecimentos gerais,
como filosofia, matemática e geografia, além de conhecimentos específicos, como
língua e literatura, eram seus novos adversários. Ele foi o primeiro a entregar
as provas e sair. O resultado seria divulgado no mesmo dia à noite. Moninho se
reuniu com a família e com o seu velho mestre. Quando a noite chegou, o veredicto
foi proferido em praça pública:
— Por decreto do atual governo,
os novos “dedos de prata” são os seguintes: Arkindo, da rua da cerâmica... enquanto
o porta-voz discursava e havia festas e lamentos, Moninho prestava atenção,
buscando ouvir seu nome. Por fim...
— Moninho, da rua das oficinas...
Todos gritavam e pulavam. Moninho era,
agora, um “dedo de prata”. Isso era apenas o começo, pensava Moninho. Ele mostrara
ao mundo que poderia ser o que quisesse. E queria mais. Queria mais
conhecimento, pois sabia que o saber ajudaria sua família e ele próprio. Nas
mãos de Moninho, a oficina prosperou. Virou uma grande indústria e seus pais conseguiram,
com sua ajuda, “dedos de prata” para eles também. Moninho logo alcançou o “dedo
de ouro” e progrediu ainda mais. Não pela força do governo, mas pelo conhecimento
que conseguiu através do tempo de ensino. Não foi um timbre ou diploma do governo,
mas sua determinação em mudar que fez com que o destino lhe fosse benéfico.