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Anjos em tanka!

  Anjos e humanos,   Juntos na aurora celeste,   Asas e mãos entrelaçadas, Segredos compartilhados,   Eternidade em abraços.

Santa Cecília e Pastor Lawrence (Episódio 1)

 

Santa Cecília e Pastor Lawrence (Episódio 1)

 

Shiro Seijo to Kuro Bokushi (Saint Cecilia and Pastor Lawrence) - Pictures - MyAnimeList.net

Santa Cecília e Pastor Lawrence (Episódio 1)

 

 

O estúdio Doga Kobo nos trouxe uma animação produzida pela Aniplex e Kodansha, sobre uma santa de nome Cecília que vive sob a proteção do pastor Lawrence. A história gira em torno do cotidiano dos dois. Enquanto o pessoal da vila pede orientações para a santa, o pastor cuida da igreja e protege-a. E um romance pode estar se desenvolvendo na relação desses dois, mas de forma leve e bem açucarada. Uma comédia romântica estilo shounen, que foi programada para ter 12 episódios e está, atualmente, sendo exibida pelo site Crunchyroll. E o enredo nos leva a conhecer dois elementos interessantes.

 

 

Como comédia romântica e fantasia, existe aqui uma possibilidade de atrito entre funções deles com o fator romance, pois Cecília tem um amor secreto pelo pastor. Seria um amor proibido? Como é uma comédia bem leve, ela também nos mostra uma ferramenta humorística interessante que, no começo, pode novamente parecer contraditória com as funções do Lawrence, como pastor, e da Cecília como santa. Eles caem em pecados. Cecília cai em alguns dos pecados mais comuns, como a preguiça, que é um pecado capital. Entretanto, não interpretei isso como uma forma de sujar a imagem cristã, mas como uma forma de quebrar a monotonia e fazer comédia. Não se deve levar isso à sério, pois é elemento cômico usado na obra para divertir, não para provocar. E é uma obra que, apesar de usar símbolos religiosos cristãos, não se refere nitidamente a alguma vertente, e nem se liga diretamente aos dogmas da igreja, sejam eles católicos ou protestantes. É apenas um pano de fundo para contar uma história de fantasia, comédia e romance.  Uma ficção nem católica e nem protestante, mas com símbolos cristãos. No Japão essa mistura existe. Não é algo usado para denegrir, mas é algo cultural e ingênuo, como a seicho-no-ie que possui um sutra sagrado que, segundo seu fundador, foi dado a ele por arcanjo Miguel, então, a seicho-no-ie possui elementos budistas aliados a elementos cristãos. É algo que não me espanta, considerando que o Japão é o lar de mais de 200 deuses.

 

 

Os pecados.

O interessante na comédia é tratar as imperfeições humanas, muitas vezes os pecados capitais (gula, inveja, ira, e outras formas de pecados capitais), com exagero. O absurdo torna a piada apimentada. Busquei no Wikihow algumas dicas de como fazer uma piada. E lá encontrei pontos interessantes:

 

 

 

1-    Acrescente um elemento absurdo à piada. Por exemplo, Cecília ser preguiçosa. Uma santa que possui preguiça, mas que só mostra esse lado dela ao pastor Lawrence;

 

2-      Diga algo chocante ou inesperado. Quando eles vão até uma estilista/costureira, não querendo dar spoilers, ela conduz a conversa com falas chocantes que deixam até a santa vermelha;

 

3-    Tire sarro de assuntos batidos. No caso, ao visitar a cidade, Lawrence pede para ela esconder seus poderes divinos e ela aceita. Quando pedem um milagre, ela, ao invés disso, faz um truque de cartas. (Sim, eu ri muito com isso).

 

 

 

Trecho do mangá que pode ser encontrado na Play Livros, em inglês.

E isso pode causar um certo desconforto em algumas pessoas, pois elas podem acreditar que uma pessoa santificada está livre das fraquezas da carne. Acredito que, enquanto carne, a tentação se manifestará. Aqui faço uma advertência que se faz digna: levando em consideração que é uma obra de ficção, feita como comédia, e já tendo a comédia bem demonstrada, podemos relevar certas coisas e levar em consideração outros fatores. O primeiro ponto a se relevar é a santificação em vida. Enquanto os santos da igreja católica necessitam passar por um cuidadoso processo de investigação e análise, para atestar suas obras para a canonização, e geralmente esse procedimento se dá após a morte da pessoa. Já a história nos mostra Cecília (viva) com o título de santa. E, também, se considerarmos a doutrina evangélica, apenas Deus (Trindade) possui a santificação/santidade, e é d’Ele a salvação das almas, sendo que Ele dá aos homens o Espírito Santo e a salvação, portanto só Deus é santo. Um ponto convergente aqui é que Cecília não é adorada, portanto, não é um ídolo. Sua função é aconselhar, proteger e guardar sua cidade. Ouso afirmar que é quase uma sacerdotisa de templo (miko). 

 

 

 

Relevando esses pontos, afinal, é uma ficção que não se aprofunda nesse detalhes, que diferenciam católicos de protestantes,  podemos analisar outros pontos interessantes.  Enquanto presos à carne, os santos discípulos de Deus apresentaram essa luta entre espírito e carne. Quem nasce do espírito rejeita a carne e isso é fato. Assim sendo, apesar de ser tentada pela preguiça, pois ainda é encarnada, em nenhum momento ela se deixou dominar por ela (preguiça) e efetuou suas funções com perfeição. Domínio próprio. A Cecília, durante todo o primeiro episódio, se mostrou afável, bondosa, amorosa, mansa, alegre, pacífica e paciente. O autor, portanto, teve o cuidado de fazê-la o mais próximo possível do conceito de ela ser um ser espiritual.  Biblia On: “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito”( Gálatas 5:19-25).

 

 

 

O texto acima ainda mostra que os que vivem em Cristo crucificam seus desejos carnais (sua carne), ou seja, mortificam tais desejos. Isso demonstra essa luta interior de cada um de nós. Um exemplo de luta do espírito e da carne se dá na vida de Paulo de Tarso que, após ser convertido, recebeu um “espinho” em sua carne. Tal espinho, não se sabe ao certo o que possa ter sido, gerou controvérsias e estudos.  Uma das interpretações aceitas é de que: “... este “espinho” consistia em uma fraqueza de temperamento, à qual ele ocasionalmente cedia, e que interferia com seu sucesso (compare Atos 15:39; 23:2-5). Se considerarmos o fato, “que a experiência dos santos de Deus em todos os tempos estabeleceu conclusivamente, da dificuldade de subjugar uma fraqueza no temperamento, bem como a dor, remorso e humilhação que tal fragilidade costuma causar aos que gemem debaixo dela, podemos estar inclinados a acreditar que a hipótese não menos provável a respeito do “espinho” na carne é que o coração amoroso do apóstolo chorou como sua prova mais dolorosa a desgraça de que, por impaciência em palavras, ele tinha muitas vezes ferido aqueles por quem ele teria dado voluntariamente sua vida” (Lias). Retirado do site Apologeta que traduziu o texto de Illustrated Bible Dictionary (Thorn in the flesh). Tenho para mim, e devo estar errado, que a luta do espírito e da carne continua em nossas vidas até o dia do nosso juízo. Carta de Paulo aos Romanos:

 

 

 

“ Romanos 7:15

 

Pois não compreendo meu próprio modo de agir; porquanto o que quero, isso não pratico; entretanto, o que detesto, isso me entrego a fazer.

 

 

 

Romanos 7:18

 

Porque sei que na minha pessoa, isto é, na minha carne, não reside bem algum; porquanto, o desejar o bem está presente em meu coração, contudo, não consigo realizá-lo.”

 

 

 

Enquanto frequentava a Igreja Batista Central de Brasília (sim, eu já fui batista), eu me recordo que o pastor Vilarindo comentava sempre, em suas pregações, que Deus permitia que algumas coisas acontecessem para que sua Glória se manifestasse. Dessa forma, ficava evidente que quem estava operando o milagre era o próprio Espírito de Deus e não a pessoa em si, que possuía seus defeitos e suas tentações. Outro exemplo é São Tomé que foi incrédulo e tocou nas chagas de Cristo. Exemplos não faltam das imperfeições e da perfeição do Deus da Santíssima Trindade.   

 

 

Um amor proibido?

 

Assim sendo, vemos que Cecília possui imperfeições e tentações, mas em nenhum momento ela cede à sua carne, mostrando-se uma agente de Deus para guiar os homens. Já o pastor Lawrence, sempre protetor, é ainda mais rigoroso com sua fé, pois não demonstra, em nenhum momento, nesse primeiro episódio, estar cedendo ao carisma da santa. E a santa não o namora de forma nenhuma, apenas demonstra um respeito e um amor platônico pelo pastor que a protege. O engraçado é ficar vendo os demais cidadãos dessa vila torcendo para o casal. E, enfim, chegamos a outros pontos importantes: pode uma santa constituir família? E pode um pastor casar?  Afinal, Cecília já demonstrou que ama o pastor como uma mulher ama um homem.

 

 

 

Posso começar a exemplificar com a Santa Família: Nossa Senhora, São José e o Senhor Jesus que constituem o centro familiar mais importante dentro da doutrina cristã. O site Shalom nos traz outras famílias que possuem santos. O relato que mais me comoveu foi o que transcrevo agora, fazendo ressalvas para a opinião do autor, que não reflete minha opinião: “Santa Mônica (331-387), mãe de Santo Agostinho. Mônica casou-se aos 17 anos com Patrício. O marido tinha um temperamento violento, mas a oração e o testemunho de Mônica o levaram à conversão. O casal teve três filhos, sendo um deles Santo Agostinho, Doutor da Igreja, um dos maiores personagens da história do cristianismo. Um filho difícil, cheio de vaidade e avesso à fé cristã professada pela mãe, Agostinho deu trabalho.

 

 

 

Imagino as mães de hoje. Se enfrentassem os problemas dos filhos com a oração, penso que a nossa sociedade seria outra. Foi com as suas orações e as lágrimas que Agostinho se converteu e pediu o batismo. É o que ele reconhece em suas Confissões: “Deu-me a vida temporal segundo a carne e, pelo coração, fez-me nascer para a vida eterna”.

 

 

 

Santo Agostinho deu um certo trabalho para a Santa Mônica, mas existe outro pai que tornou-se santo e ainda educou tão corretamente seus filhos que foi pai de outra santa. Aleteia: “São Luís Martin: "Cuide das vidas confiadas a você" - Pai de Sta. Teresa de Lisieux e de mais 8 filhos, este viúvo formou as 5 filhas sobreviventes na beleza e no valor da fé. Todas entraram na vida religiosa”. Esses exemplos mostram que não existe uma impossibilidade entre ser uma pessoa santificada e constituir família, o que pode configurar (como possível) um provável casamento entre Lawrence e Cecília. Já Lawrence, não entrarei em detalhes, pois o primeiro episódio não mostrou as regras e dogmas da instituição religiosa da qual ele faz parte, mas considerando-se o significado da palavra, que nos remete ao protestantismo, já mostra que a constituição de uma família pode ser possível, entretanto, será engraçado se mostrarem ele com sentimento de culpa, caso ele venha a namorar uma santa. Seria outro elemento interessante da comédia apresentada, mas considerando que comédias românticas shounen (destinado ao público jovem masculino) quase nunca saem do lugar, então, aposto que a história provavelmente não chegará tão longe. Novamente, posso estar enganado!

 

 

 

E tudo isso me passou pela cabeça, enquanto eu ria e me divertia com essa história ingênua e divertida sobre a vida cotidiana de uma santa e seu pastor protetor. Adorei, mas devo advertir que pessoas podem se sentir ofendidas em sua fé dependendo do grau de aproximação que ela possui de algum dos dogmas apresentados! Curiosidade: “Santa Cecília e Pastor Lawrence” (Shiro Seijo to Kuro Bokushi) é baseado em um mangá ao estilo 4-koma (Quatro Quadros, que é usado muito em comédia) escrito e desenhado por Kazutake Hazano, sendo que iniciou publicação na revista Shounen Magazine R (em agosto de 2017), até o encerramento da revista. Posteriormente migrou para o aplicativo Magazine Pocket da editora Kodansha. Atualmenta já possui dez volumes compilados e continua em publicação. Estou acompanhando o mangá via “Play Livros” e ele segue uma linha tranquila e sem nenhuma intenção de problematizar. Estou no segundo volume da obra, o que deve ser equivalente a 04 capítulos do animê.

 

Equipe do animê:  

 

Produtor: Shioya, Yoshiyuki

Diretor: Noro, Sumie

Diretor de som: Tsuchiya, Masanori

Música Tema- abertura: ClariS

Música Tema- encerramento: sasanomaly

Autor: Kazutake, Hazano

Produtor Chefe: Miyaki, Masanori

Diretor de Arte: Nakamura, Chieko

Character Design: Nakagawa, Hiromi

Composição de Série: Yamada, Yuka

Estúdio: Doga Kobo.


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