Em Kivotos vão, Alunas e o sensei, Aros brilham céu, Segredos e corações, No azul, a fé sem fim. Netflix, Prime, Crunchyroll, Anime Onegai, Sato Company... será que alguém poderia disponibilizar oficialmente a série animada? Assistir via streaming seria excelente. Segue um vídeo comemorativo do jogo.
Oresuki e as máscaras sociais
ORESUKI Are you the only one who loves me?
https://oresukianime-usa.com/character/ |
O cenário para essa comédia é muito interessante. Joro é um
típico aluno mediano, que tem como grande amigo o esportista Sun-chan, e se
relaciona muito bem com sua vizinha Himawari. Ele possui uma certa quedinha
pela presidente do conselho estudantil, Cosmos, e odeia a bibliotecária Pansy. É
o típico cenário que nós vemos todos os dias. O problema começa quando Himawari
e Cosmos pedem para sair com Joro e se declaram, durante o encontro, apaixonadas
pelo.... Sun-chan. Sim, as duas pedem ajuda para Joro, na tentativa de
conquistar o Sun.
Nesse momento, o roteiro engrena em um dos melhores arcos
cômicos dessa temporada. Logo, percebemos que Joro não é o que parece, ele
esconde seu verdadeiro “eu” com uma máscara social. O roteiro usa dos efeitos
narrativos das máscaras sociais para começar esse duelo psicológico, que fica
ainda melhor quando Joro descobre que a garota que ele odeia, Pansy, é a única que
o ama de verdade e se declara para ele. O que são máscaras sociais? Apesar dos roteiros
japoneses sempre trazerem esse elemento como um subterfúgio para mostrar que um
personagem se esconde através de reações e comportamentos falsos, uma máscara
social é algo mais interessante que isso e explico no próximo parágrafo.
Hoje em dia, o termo
mais usado é o de “papéis sociais”. Papéis sociais são comportamentos humanos
quando uma pessoa está se relacionando com alguém. Quando um pai policial sai
para trabalhar, espera-se que ele aja como um oficial da lei durante o seu serviço.
Quando ele chega em casa, o seu papel social muda e ele passa a ser o pai e o
esposo. Quando ele sai para se divertir, seu papel social é o de amigo ou de consumidor, por exemplo. Ou seja os papéis
sociais são interações, e comportamentos, que um indivíduo dispõe para se
comunicar com outras pessoas. Para deixar mais claro, Eduardo Simões Martins[1] em
THE SOCIAL ROLE IN THE FORMATION OF THE LANDSCAPE AND SOCIAL
IDENTITY
“Nas ciências
sociais o papel social define a estrutura social, basicamente como um conjunto
de normas, direitos, deveres e expectativas que condicionam o comportamento
humano dos indivíduos junto ao grupo ou dentro de uma organização. Os papéis
sociais atribuídos ou conquistados têm em vista a interação social e resultam do
processo de socialização. (...) Todos os comportamentos que se manifestam nos
encontros sociais são chamados, na psicologia social, de papel desempenhado.
Tais comportamentos, por sua vez, podem ou não estar de acordo com a prescrição
social, isto é, as normas prescritas socialmente para o desempenho de um
determinado papel. Isso gera uma tensão existencial, porque são
muitas as situações a ser desempenhadas além das que se transformam e
pressionam a adaptação”.
Joro, então, deixa seu papel social de “bom menino” se
quebrar e vemos como ele realmente se sente com essa situação inusitada: com
raiva, pois ele vai tentar ajudar duas amigas a conquistarem o seu melhor amigo
e ainda descobre que a mulher que ele odeia é a que o ama de verdade.
O roteiro vai trabalhando com base nas funções sociais dos
personagens em situações muito interessantes como, por exemplo, quando Pansy
chama o Joro para ir à biblioteca e lá ela está segurando um livro e pede para
falar com o outro Joro. Logo, Joro responde mostrando a ela o lado “menino mau”
que ele tenta esconder dos outros. É uma cena que me arrepiou, posso dizer,
pois ela se senta ao lado dele, segurando o livro “Strange Case of Dr Jekyll
and Mr Hyde”, em português, “O Médico e o Monstro”. A referência
mais clara que existe! Aliás, o roteiro ainda brinca com os livros, nos dando
pistas dos elementos do roteiro através dos títulos deles que vão aparecendo
aos poucos. É uma delícia!
E as máscaras sociais vão caindo uma à uma, em um enredo
muito bem elaborado e amarrado. Um enredo que vai brincando com as situações e,
com uma dinâmica muito louvável, consegue encerrar esse arco em apenas três
episódios, que podem ser vistos como um pequeno filme, totalizando 69 minutos
de uma comédia amorosa das melhores. E, rapaz, como fiquei admirado com a
Pansy! O comportamento dela é diferente de tudo que já assisti em roteiros
desse tipo e ela é tão bem construída. A mulher é sensacional 😊 Assistam e vocês entenderão! Nota 10!
https://www.crunchyroll.com/pt-br/oresuki-are-you-the-only-one-who-loves-me
Aliás, recomendo que vocês
assistam ao terceiro episódio duas vezes, pois as revelações do final do arco
fazem com que você compreenda de forma diferente (e até mais completa) o que
estava acontecendo ali. A sensação é completamente diferente e, confesso, uma
das cenas me arrepiou muito ao assistir pela segunda vez. Fica a dica!
[1]
Lido em 18 de outubro de 2019 em:
<https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/Ospapeissociaisnaformacao.pdf>