Pular para o conteúdo principal

Oscar- as animações 2-D perderam a vez?

OSCAR 2012 (Texto surpresa informado no quadrinho)


Pôster de Tenchi Muyo Manatsu no eve


 


    É fato que hoje já não se faz mais o 2-D puro, pois quase todas as animações, que ainda usam esta técnica, mesclam um pouco de 3-D CGI em sua produção. Também temos que ver que foram desenvolvidos softwares que auxiliam na construção (criação) dos elementos em 2-D, facilitando o trabalho dos artistas.  Resumindo, brevemente, a história da animação recente nos EUA (duas últimas décadas), quando a Pixar criou Toy Story, tanto a crítica, quanto o público norte-americano, autoproclamaram o fim das animações que usam primordialmente a técnica 2-D. Notamos que os grandes favoritos ao Oscar seguem essa linha de raciocínio, pois basta ver a lista de vencedores ao Oscar, de 2002 até 2011, para constatar a massiva presença de animações 3-D CGI entre os vencedores.


 


Lista de vencedores (2002 – 2011) em ordem:


Shrek (3-D), Sen to Chihiro no Kamikakushi (2-D com pouco 3-D CGI), Finding Nemo (3-D),  The Incredibles (3-D), Wallace e Gromit (Stop Motion), Happy Feet (3-D), Ratatouille (3-D),  Wall-E (3-D), UP (3-D) e, finalmente, Toy Story 3 (3-D).


 


A lista dos indicados ao Oscar 2012 de Melhor Animação é esta:


 


Gato de Botas


Kung Fu Panda 2


Rango


Um Gato em Paris


Chico & Rita


 


    Sendo que, segundo especialistas, Rango é o favorito à premiação deste ano. Então, ao assistir Summer Wars, eu me perguntei, será que 2-D já não é mais considerada técnica de arte digna de levar o caneco de melhor animação? Animações essencialmente 2-D, mesmo que mesclem 3-D CGI, estão ficando para trás na lista de vencedores. Será algum problema com o enredo? Vou tentar, mesmo não sendo especialista, achar uma resposta, mesmo que esta resposta só seja aceita por mim mesmo.


 


    Iniciei, então, buscando as regras para admissão ao Oscar de melhor longa animado que estão, em inglês, nesta página- Oscar Rules. As regras são simples. Para ser admitido, o filme tem que ser realizado em frame-by-frame, ter 75%, no mínimo, de sua extensão em tela, em animação e, além disso, tem que ficar uma semana em cartaz. Depois disso, serão convidados representantes que verão os indicados e lhes darão a nota devida. Claro, a melhor nota leva a estatueta.


 


    Para sentido de exemplificação, vamos pegar Summer Wars como exemplo. Lançado nos EUA, em 24 de dezembro de 2010, ficou 49 dias em cartaz, ou seja, 7 semanas, é 100% animação que mescla 2-D com 3-D CGI e sua indicação foi aceita ao Oscar daquele ano. Entretanto, na lista final aos indicados, Summer Wars não conseguiu nota suficiente para estar entre os finalistas. Então, o “problema” aqui está no artigo VI das regras- o voto. Segundo as regras, para ser finalista, o longa animado deve ter, no mínimo, nota 7,5, ou seja, ser “fair” (justa) sua indicação. Summer Wars não ficou na lista final, então, não deve ter alcançado esta média.


 


    Logo, o problema aqui tornou-se subjetivo. Os integrantes do comitê, que darão notas aos indicados, tornando-os finalistas e, posteriormente, escolherão o vencedor do Oscar, não estão achando graça nas animações 2-D com 3-D CGI para esta premiação. Conseguimos confirmar a questão do primeiro parágrafo: a crítica autoproclamou o fim de animações 2-D. Naquele ano, o vencedor ao Oscar foi o terceiro filme da franquia Toy Story. Podemos perceber que o negócio está realmente sério, ao ver que os estúdios Disney estão adotando o sistema. Os executivos dizem que o interesse agora é pelo 3-D CGI. Levando isso adiante, a Disney, em 2010, lançou Tangled pelo sistema “Digital Intermediate (2K) (master format) e Disney Digital 3-D (source format)”.  E Cars 2 pelo processo “Digital Intermediate (2K) (master format) e Digital (source format)”. Claro que Winnie The Pooh (2011) foi lançado pelo sistema convencional de animação mas, assim como Summer Wars, sequer foi lembrado para o Oscar.


 


     Agora, devo acrescentar que adoro 3-D CGI, não tenho nada contra os vencedores ao Oscar de melhor animação, adorei Tangled e tenho Final Fantasy aqui em casa em blu-ray. A questão que levanto é porque tantas animações 2-D, que envolvem o sistema 3-D CGI, com tanta qualidade técnica, enredos atuais e envolventes, estão apenas fazendo número na lista de indicados, pois os verdadeiros vencedores sempre são produções ao estilo 3-D?  Afinal, nas últimas 11 premiações, o 3-D ganhou 8 e está sendo forte indicado ao Oscar deste ano também.


 


    Como disse no post sobre a crise dos mangás e animês, temos que apontar o problema, mas também direcionar para uma solução. Para mim, a captação de movimentos, cenários e a criação destes estilos (2-D e 3-D) divergem um pouco. Um pequeno exemplo de diferenciação entre as técnicas: em algumas animações, em 3-D, usa-se, inclusive, atores para captar o movimento dos personagens, enquanto que na maioria das técnicas em 2-D esta sensação/ilusão de movimento se dá pela criação de frames através dos inbetweeners. Muitas vezes é feito à mão, frame-by-frame. Então, deixo aqui um apelo e uma sugestão aos membros do comitê do Oscar- criem duas premiações em separado- Melhor Longa Animado em 3-D e Melhor Longa Animado em Outras Técnicas ( Stop Motion, 2-D e etc...).   Sei que o Oscar não considera a técnica em Stop Motion como elegível ao Oscar de Melhor Longa Animado, mas definindo uma nova categoria, pode-se criar este espaço.


 


    E, como as premiações são subjetivas, mesmo não tendo sido um finalista ao Oscar 2011, Summer Wars conseguiu notório reconhecimento ao redor do mundo, sendo exibido em diversos festivais e recebendo inúmeras premiações. E, para mim, a animação essencialmente 2-D será sempre eterna e bela!







 


 


 


       


  


 

Postagens mais visitadas deste blog

Outros Papos Indica: O Cérebro que se Transforma

Norman Doidge é psiquiatra, psicanalista e pesquisador da Columbia University Center of Psychoanlytic Training and Research, em New York, e também psiquiatra da Universidade de Toronto (Canadá). Ele é o autor deste livro que indico a leitura. O livro, segundo o próprio editor, “reúne casos que detalham o progresso surpreendente de pacientes” que demonstram como o cérebro consegue ser plástico e mutável. Pacientes como Bárbara que, apesar da assimetria cerebral grave, na qual existia retardo em algumas funções e avanço em outras, conseguiu se graduar e pós-graduar. Um espanto para quem promove a teoria de que o cérebro humano é um órgão estático, com pouca ou nenhuma capacidade de se adaptar. “ Creio que a ideia de que o cérebro pode mudar sua própria estrutura e função por intermédio do pensamento e da atividade é a mais importante alteração em nossa visão desse órgão desde que sua anatomia fundamental e o funcionamento de seu componente básico, o neurônio, foram esboçados pela p

Outros Papos indica uma pesquisa- I.A. e as mãos!

 Hoje não vou indicar um canal, mas uma pesquisa. Enquanto eu ainda tinha uma conta no Twitter, eu estudei muitos desenhos feitos por inteligência artificial e notei uma coisa peculiar em muitos deles. A I.A. (inteligência artificial), muitas vezes, não sabe fazer dedos e mãos.  Vou colocar um vídeo aqui que achei criativo. Um vídeo sobre Persona 5, mas com a letra a música sendo usada para gerar desenhos por I.A.. Notem que em alguns dos desenhos essa peculiaridade aparece. Mãos desenhadas de forma errada. Acredito que algumas inteligências podem não saber como construir, porque o programador não inseriu, na engenharia do sistema, a anatomia das limitações impostas pelos ossos. Simplesmente, eu não sei e preciso pesquisar. Pesquisem também.  

Paulo Fukue- O Engenheiro de Papel

 A tradição não é estática. Ela tem uma alteração lenta. Proteger a tradição é honrar os que vieram antes. Esse é um dos princípios de quem conserva. Por exemplo, antes de criar o Jeet Kune Do , Bruce Lee precisou aprender a tradição do box chinês, Wing Chun . Ele observou seus movimentos, treinou sua base, observou sua realidade e desenvolveu sua técnica para preencher algo que ele considerava falho. Ele conservou e debateu sobre mudanças pontuais, até chegar ao seu estilo próprio. Ele não poderia realizar tal feito se não existisse uma tradição de golpes e lutas anteriores. Se ele não tivesse um Yip Man que o ensinasse. Uma tradição que é mantida é sempre essencial para evoluções futuras e um mestre de hoje sempre aprende com um mestre do passado. Assim a tradição se movimenta. É assim também nas ciências, nas artes e no mundo inteiro. Uma sociedade que respeita seus mestres (professores de grande saber) pode evoluir mais rapidamente. Nesse sentido, toda a forma de divulgação de mest