O Dilema do Lucro Compartilhado: A Crise Estrutural dos Estúdios de Anime e o Modelo do Comitê de Produção A indústria japonesa de animação, celebrada por seu crescimento global contínuo e pela capacidade de gerar franquias multibilionárias como Demon Slayer e One Piece , esconde uma profunda crise estrutural que atinge diretamente os estúdios de produção. Conforme revelado pelos relatórios de 2025, embora a receita total da indústria se mantenha em alta, impulsionada em grande parte pelo mercado internacional, os estúdios de animação operam sob o que é frequentemente chamado de "boom sem lucro" (TEIKOKU DATABANK, 2025). Ao analisar a temporada passada, percebi muitas séries com animações que fariam qualquer amador se envergonhar. Isso se deve a um fator cada vez mais evidente: a péssima distribuição de recursos para alguns estúdios. Veja a seguir. A raiz desse problema reside no modelo de negócios dominante: o Comitê de Produção (Seisaku Iinkai). Modelo de negócios que...
Serei breve no texto de hoje. Será um texto para a indagação
de muitos. Daniel Gouveia Costa, em seu livro “Comunicações Multimídia na Internet” já aponta para o que venho observando, e ele
relata: “Internet consolidou-se como a
principal rede de comunicação de dados. Nessa rede, aplicações como
transferência de arquivos, envio de mensagens eletrônicas e navegação web são
amplamente utilizados. A influência que tais aplicações têm nos usuários dessa rede
faz com que muitos enxerguem esses serviços como sendo a própria Internet. A
evolução da rede mundial de computadores, tanto em termos operacionais como no
número de usuários, possibilitou que novas aplicações surgissem. Entre essas
novas aplicações estão às comunicações multimídia na Internet”.
O crescente fluxo de pessoas na rede, bem como o avanço
tecnológico que permite conexões mais rápidas, estáveis e populares, começou a
me fazer indagar porque diabos as empresas japonesas ainda precisam de
distribuidores de seus produtos para o ocidente? Ainda hoje, uma empresa
japonesa lança um produto em seu mercado e o distribui somente por lá. Cabe a
uma empresa estrangeira, como a Diamond Films (no caso dos filmes de Dragon
Ball Z e Cavaleiros do Zodíaco) negociar com as empresas japonesas e conseguir
acordos de distribuição. Até para conseguir animês para o Crunchyroll, o
usuário precisa esperar a boa vontade de distribuidores que, vez ou outra,
decidem não liberar títulos para a região X ou Y.
Ora, a internet criou o que chamamos de comunicações
multimídia, ou seja, ferramentas usadas para a interação entre usuários e
comunidades, tais como os vídeos em streaming e sites como o Daisuki, Netflix e
o Crunchyroll. A entrada em uma região não depende mais de rigorosas regras
empresariais e jurídicas, pois a internet, hoje, é um meio livre e com regras
próprias de expansão e vendas. Não existe lei que impeça uma empresa japonesa
de vender seus produtos para outras partes do mundo, então, porque elas não
criam um setor de vendas para o mundo através do comitê? É esta a indagação que
gostaria de deixar com este texto. Por exemplo, somente o Crunchyroll
já ultrapassou o número de 400 mil assinantes em todo o mundo. É uma grande
comunidade e local de vendas.
Para se criar uma animação, como exemplo, as empresas não
necessitam mais de uma aceitação de um comitê (empresas reunidas e dispostas a
liberar dinheiro para uma série ou filme). The Little Witch Academia 2
alcançou, através da internet, uma
campanha para a criação de uma nova animação que será distribuída internacionalmente.
O mesmo ocorreu com Under The Dog, que também alcançou o financiamento coletivo
para a criação de uma animação. Mostro isso para dizer que os tempos gerenciais
passados são, de fato, passado. Atualmente, o dinheiro corre livre pela rede
mundial de computadores e se a empresa ficar restrita à formas gerenciais
antigas somente vai fazer dela um alvo para concorrentes que, porventura,
tiverem êxito nessa empreitada. Vejam o que aconteceu com a Blockbuster. Foi
engolida pelas empresas que investiram em streaming, como a Netflix.
A solução que encontro para isso é simples. A empresa
japonesa cria uma animação (com ou sem comitê), e um setor de vendas, que lançará o produto em
diversos territórios, negociando elas próprias com os portais aqui já citados.
Para a venda em disco (blu-ray e dvds) a empresa lança material nas línguas de
países que mais aceitaram os produtos. Ou seja, eles criam uma animação, lançam
ela em um portal de streaming, verificam em que região ela foi mais bem aceita
e cria discos com base nessa aceitação, com legendas na língua e material
promocional destinado àquelas regiões. Tudo isso sem precisar sair do Japão,
através da internet. Sem a necessidade de distribuidores locais. Sei que para o
cinema a regra é diferente, mas para séries de televisão essa regra se aplica
muito bem. Para elas é um ganho com o aumento na possibilidade de vendas e, para nós, um ganho no aumento de produtos lançados em com preços mais baixos pela ausência do distribuidor local (intermediário).
Então, fica aqui essa indagação e a minha resposta.

